Se existe popstar magro, careca e narigudo, é ele. Pinta de superestrela, só quando tem nas mãos uma bola de basquete. Desde que chegou a Mar del Plata, há duas semanas, Manu Ginóbili não sabe o que é estar sozinho. Em volta dele, ou estão os companheiros de seleção, ou dezenas e mais dezenas de microfones, câmeras, gravadores, bloquinhos, canetas, celulares disparando flashes, meninas gritando, mãos segurando camisas para ele assinar, até jornalistas pedindo autógrafos, e um braço onipresente: o do assessor de imprensa, sempre pronto para tirar o craque dali às pressas e carregá-lo para outro lugar.
Longe da seleção argentina desde as Olimpíadas de 2008, em Pequim, Ginóbili matou a saudade em grande estilo e já está dizendo adeus de novo. Desta vez, para valer. A Copa América em seu país serve como uma espécie de despedida: é a última vez que a Geração Dourada se apresenta em solo argentino. Depois disso, uma escala de luxo em Londres-2012, e um dos maiores times de basquete de todos os tempos começa a se esfacelar. Não só Manu, mas Oberto, Nocioni, Sánchez, jogadores que devem encher a barca de campeões olímpicos no caminho da aposentadoria. Dos grandes ídolos deve sobrar Scola, quase igualmente festejado pela torcida. Quase. Porque mesmo em terra de craques, Ginóbili é rei.
Tanto que começou o torneio em marcha lenta, ganhou fôlego ao longo das duas semanas e brilhou justamente no momento em que os grandes líderes costumam brilhar. Na noite de sábado, quando um abusado Porto Rico resolveu fazer jogo duro com anfitriões, Ginóbili chamou a responsabilidade. Anotou 23 pontos, incluindo seis arremessos certeiros de três, muitos deles fundamentais para manter a Argentina viva até a última bola.
E na hora da última bola, quando o portorriquenho José Juan Barea soltou a bomba, a tensão de um segundo se multiplicou por uma eternidade. Se caísse, seria um drama típico dos tangos da casa. Mas não caiu. Deu aro, "clang", como reproduziu o próprio Manu depois do jogo. E o ginásio Ilhas Malvinas explodiu em euforia. Aliviado e garantido nos Jogos de Londres, o craque se lembrou imediatamente de algo correspondente na NBA, onde defende o San Antonio Spurs ao lado de Tiago Splitter.
- Foi muito parecido com aquele jogo 7 na final de 2005, contra o Detroit Pistons. É um jogo que não tem amanhã. Imagina como seria ver a Argentina eliminada dentro de casa. Seria uma das derrotas mais dolorosas da minha carreira. Quando vi aquela bola do Barea no ar, e ela bateu no aro, foi uma emoção forte demais, foi um peso que saiu das minhas costas – admitiu Manu, nascido em Bahía Blanca, a 500 quilômetros da cidade que os argentinos chamam carinhosamente de Mardel.
Ver os ídolos deixando a quadra derrotados seria um golpe injusto para uma torcida que empurra o time o tempo todo a plenos pulmões. Na estreia, contra o Paraguai, as arquibancadas da Arena estavam estranhamente silenciosas, no máximo palmas discretas, como se aquele primeiro jogo fosse uma ópera para abrir os trabalhos. Dali em diante, a bola de neve cresceu.
Contra o Brasil, na segunda fase, Ginóbili foi reapresentado a Alex, um dos maiores defensores das Américas. Ficou nos 14 pontos e errou os três tiros de longa distância que tentou. A derrota derrubou a Geração Dourada no chão a dois jogos da semifinal. Antes da partida decisiva, eles ainda atropelaram a República Dominicana, com 17 de Manu, e no jogo decisivo viveram o drama inesperado até o fim.
Em cada partida, a cena se repete. Apresentado pelo locutor do ginásio, o ala de 34 anos recebe aplausos e gritos enlouquecidos da torcida. A reação é a mesma a cada vez que ele é substituído ou volta para a quadra. Quando está no banco, geralmente com uma toalha branca sobre os ombros, recebe massagem, torce e conversa sem parar com quem está ao seu lado, principalmente se é Scola, o fiel escudeiro – e por que não dizer também protagonista? – de conquistas importantes.
Contra o Uruguai, na primeira fase, Manu fez os decibéis explodirem logo no primeiro lance. Na sobra do tapinha inicial, escapou sozinho e brindou os fãs com uma enterrada fantástica. Lances como esse são simbólicos e só reforçam uma relação de amor. Que também se traduz comercialmente, em forma de um bonequinho comercializado na loja oficial do ginásio. Vendeu feito água. Afinal, quem não quer uma lembrança do rei? Mesmo que ele seja magro, careca e narigudo.
Postado por: Alan Beltrano
Fonte: GLOBOESPORTE.COM
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